FEMEN já conta com uma brasileira
"Já posso tirar?", pergunta, sorrindo, a jovem de 19 anos, enquanto
despe a parte de cima da roupa em pleno vão livre do Masp (Museu de Arte
de São Paulo), na avenida Paulista.
Quem está na boca da cena -cabelos loiros, pele bem branca, batom
vermelho-tomate nos lábios, seminua antes mesmo do 'pode' da reportagem-
é Sara Winter (sobrenome fictício, "para não envolver a família"). Sara
é a primeira integrante do grupo Femen no Brasil.
Nascida em São Carlos (interior de SP), a estudante de cinema foi
recém-aceita no coletivo feminista que hoje conta com quase 400
militantes espalhadas pelo mundo. O grupo surgiu na Ucrânia, em 2008, e
tem como principal objetivo combater o patriarcado em todas suas formas.
"No início, os protestos eram com roupa, mas não adiantava nada. Quando
elas começaram a exibir os seios, aí decolou", constata Sara.
Hoje, o Femen é uma grife global. Suas ações (denominadas "ataques" pelas executoras) aparecem na mídia dia sim, dia não. As ativistas estão geralmente com fantasias minúsculas, grinaldas e fazendo topless. Via de regra, acabam presas.
Embora o foco seja lutar contra o machismo, as Femen se debruçam sobre
quaisquer outros temas polêmicos. Dizem dar "uma visão feminina" à pauta
do momento.
Já mostraram os peitos na Itália (contra o ex-primeiro ministro Silvio
Berlusconi), na Suíça (contra o Fórum Econômico Mundial), na França
(contra o ex-diretor do FMI Dominique Strauss-Khan), na Rússia (contra o
presidente Vladimir Putin) e na Turquia (contra a violência doméstica).
Agora, voltam-se com força total para sua cidade de origem, Kiev, contra
a organização da Eurocopa na Ucrânia. O torneio serve, na visão delas,
ao turismo sexual.
É para lá que Sara embarca neste mês. Ela conseguiu uma doação de R$ 2
mil do grupo ucraniano e ainda tenta angariar mais dinheiro pela
internet. A ideia é passar por um treinamento "na marra", em ações
diretas para capturar a taça da Euro e, se possível, destruí-la.
Zanone Fraissat/Folhapress | ||
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Sara Winter (sobrenome fictício, "para não envolver a família"), a primeira integrante do grupo Femen no Brasil |
COPA E GRETCHEN
Não será seu primeiro "ataque". No mês passado, a são-carlense tentou
invadir o show da Gretchen ("denigre a imagem da mulher brasileira") na
Virada Cultural. Acabou interceptada por um segurança. Sem perder o
ânimo, convenceu a organização a fazer um discurso após o show.
"Não queremos destruir esse tipo de mulher que a Gretchen representa, só
queremos mostrar que a mulher brasileira não é só isso", afirma.
Sara também trabalha no médio prazo. Até 2014, espera arregimentar mais
de 20 meninas para organizar ataques à organização da Copa do Mundo no
Brasil.
"O alvo aqui também vai ser o combater ao turismo sexual", discursa.
AUTONOMIA
Mas, será que manifestações envolvendo nudez podem surpreender alguém no país do Carnaval?
"Com certeza! As pessoas acreditam que, por estarmos no Brasil, os
protestos com peito nu não vão chocar, mas é só lembrar que vivemos num
país de maioria católica para ver que não é bem assim", diz a jovem.
O fato de as Femen que aparecem na mídia serem jovens magras, loiras e
bem-depiladas as torna alvo de críticas de outras feministas. Há quem as
acuse de serem obedientes à cartilha da indústria da beleza. Ou que
suas performances apenas alimentam uma mídia ávida por nudez.
Segundo Sara, não há padrão de beleza para entrar grupo. "E eu
sinceramente acho que boa parte das pessoas entende a nossa mensagem",
diz.
Há outros motivos para estarem nuas, como a demonstração de autonomia
sobre o próprio corpo. Em resumo, "se um homem pode andar por aí sem
camisa, por que a mulher não pode?"
Ao fim da entrevista, após pintar os seios de verde-amarelo, a Femen
são-carlense desabafa um arrependimento: já foi agredida por um ex, e
não procurou a polícia.
"Eu era muito dependente dele, morava na casa dele. Tinha medo. Hoje, eu não pensaria duas vezes. Tem que denunciar."( é isso ai galera , é a mulher indo a luta)
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